Nos últimos meses, dois movimentos chamaram atenção no cenário global de tecnologia — e acredito que deveriam chamar a sua também, especialmente se você está envolvido com o ecossistema SaaS brasileiro:

  • A trajetória recente da Twilio, uma das gigantes do setor, que vive agora uma fase mais madura.
  • E a impressionante onda de renúncias de CEOs em empresas de tecnologia, incluindo nomes como Discord, Asana, Instacart e até a própria Twilio.

À primeira vista, parecem assuntos distintos. Mas, olhando com mais atenção, vemos que os dois apontam para a mesma direção: o mercado está mudando — e com ele, as regras do jogo para quem quer crescer com SaaS.

📉 A nova fase do SaaS: crescimento com eficiência

A Twilio é um ótimo termômetro do mercado. A empresa chegou à impressionante marca de US$ 4,7 bilhões em ARR, mas o ritmo de crescimento anual caiu de 53% (em 2021) para 12% agora.

A diferença?
Hoje, a Twilio busca algo que até pouco tempo era quase tabu no mundo SaaS: lucratividade.

Alguns aprendizados importantes desse novo momento:

  • A margem importa. A empresa agora apresenta lucro real (GAAP positivo).
  • Menos é mais. Cortou 10% da equipe, mas aumentou a eficiência.
  • Foco no core. Deixou de apostar em algumas aquisições, como a Segment, e voltou a investir pesado no que sempre fez bem: telefonia, SMS e mensagens.
  • NRR (retenção líquida de receita) voltou a subir, chegando a 107% — longe dos tempos de 140%, mas ainda positivo.

A mensagem é clara: acabou a era do “crescer a qualquer custo”.

O mercado agora premia empresas que conseguem crescer de forma eficiente, com produto validado e operação enxuta.

🧑‍💼 O esgotamento no topo: por que tantos CEOs estão deixando o cargo?

Enquanto isso, outro movimento acontece nos bastidores das grandes techs: um número recorde de CEOs está renunciando.

Segundo a Saastr, só em 2024 já foram mais de 2.200 saídas — o maior número registrado desde 2002.

Algumas das razões apontadas:

  • Burnout real. Muitos fundadores e executivos estão exaustos após anos de pandemia, incertezas econômicas, layoffs e agora a pressão por reinvenção com IA.
  • Pressões externas. Conselhos e investidores querem resultados cada vez mais rápidos e consistentes.
  • Mudança de prioridades. Para alguns, é hora de passar o bastão e focar em outras áreas da vida.

Essa tendência ainda é mais sutil no Brasil, mas não é inexistente. Cada vez mais vemos fundadores se afastando da operação ou trocando de papel — o que exige times preparados, cultura sólida e planejamento sucessório.

🔁 A conexão entre os dois movimentos

O que une a desaceleração da Twilio e a debandada de líderes é a mudança de fase do setor.

O SaaS não é mais “novidade”. É um modelo consolidado — e agora o que se espera é maturidade de gestão, inteligência financeira e liderança resiliente.

Não dá mais para escalar baseado só em carisma ou rodadas generosas.
Agora é sobre produto, margem, cultura e consistência.

🇧🇷 O que o Brasil pode (e deve) aprender com iss

Se você lidera ou faz parte de uma empresa SaaS no Brasil, vale refletir sobre algumas lições práticas:

1. Volte ao básico: produto, cliente, canal

Antes de tentar diversificar ou abraçar todas as tendências, fortaleça o essencial: seu core product, seu ICP e os canais que trazem tração.

2. Eficiência > escala descontrolada

Invista em crescimento sustentável: com CAC saudável, churn controlado e LTV sólido. Crescer “no vermelho” é cada vez mais perigoso.

3. Cuide de quem lidera

Burnout é real. Se você é founder, busque apoio. Se é executivo, esteja em uma cultura que respeite limites. Gente boa cansada não resolve nada.

4. Não se perca na IA

A inteligência artificial é uma revolução. Mas ela precisa estar a serviço do cliente — e não apenas da hype. Use com propósito.

5. Planeje sucessões

Se você sair hoje, quem toca o barco? Ter um plano de sucessão não é fraqueza — é sinal de maturidade estratégica.

✍️ Entenda, não é o fim, é só um novo jogo

O mercado SaaS não está em crise. Ele está mudando de fase.

Sai o jogo da velocidade a qualquer custo. Entra o jogo da estratégia, da margem e da resiliência.
E quem entender isso cedo pode transformar esse novo momento em vantagem competitiva.

O exemplo da Twilio e o movimento nas lideranças são alertas — mas também mapas.
Cabe a nós, aqui no Brasil, ler os sinais e adaptar com inteligência.

Se sua empresa quer crescer nos próximos anos, é hora de parar, observar e — acima de tudo — ajustar o rumo.

O jogo não acabou. Só ficou mais complexo.